Diante de toda correria entre universidade e república, alguns estudantes ainda precisam equilibrar formas de trabalhar para conseguir custear seus gastos dentro de Viçosa, muitos optam por trabalhar como freelancers em bares, restaurantes ou buffets de eventos. Contudo, aqueles que dispõem de uma bicicleta ou uma minoria, que possui moto, entra no mercado de entregadores de aplicativo, devido a flexibilidade de horários. Porém essa flexibilidade seria algo realmente bom?
Para muitos desses estudantes a liberdade de poder escolher o horário em que vai trabalhar aparenta ser muito vantajosa a primeira vista, porém com o passar do tempo essa rotina se torna cansativa, as jornadas embora flexíveis, pode ser longas e muitas vezes irem até tarde da noite, prejudicando o sono desses estudantes. Nesse ponto o cansaço físico do trabalho chega a um ponto do semestre onde se mistura com o cansaço psicológico de lidar com os prazos da faculdade, semana de provas e outras responsabilidades existentes dentro da realidade universitária.
Essas longas jornadas, onde o estudante vai para a faculdade na parte da manhã e à noite trabalha, ou vice e versa, cria um desgaste que muitas vezes vai além do corpo, invadindo a mente onde os efeitos do estresse se tornam mais evidentes. Nesse momento muitos estudantes precisam tomar uma decisão entre priorizar sua saúde mental ou continuar com aquele trabalho que garante uma renda imediata para ele, visto que, não são muitos os casos onde o estudante após uma longa jornada na faculdade e também trabalhando precisa chegar em casa e enfrentar uma longa noite de estudos, forçando tanto sua produtividade quanto sua saúde para o limite do cansaço.
O estudante de educação física da Universidade Federal de Viçosa, Juan Rodrigues, de 22 anos, entrou na UFV em 2023 e logo no ano seguinte viu a necessidade de trabalhar com alguma coisa para conseguir se sustentar dentro de Viçosa. Juan diz ter trabalhado como entregador de aplicativo no período de agosto de 2024 até o final de março de 2025, ele relata a dificuldade de conseguir horário para trabalhar devido ao cronograma do seu curso e o tempo mínimo de trabalho que era fornecido pelo aplicativo. Juan também fala sobre a realidade financeira e o auxílio que a empresa fornecia para os colaboradores.
Esse cenário onde alguns estudantes precisam encontrar formas informais de trabalho é devido ao fato de que alguns cursos não oferecem estágio durante a graduação e quando oferecem são muitas vezes estágios voluntários, onde o estudante nem sequer vai receber. De acordo com a Associação Brasileira de Estágios(ABRES), atualmente, existem cerca de 9.976.782 estudantes de ensino superior, desse número apenas 836 mil estão estagiando, ou seja, apenas 8,38% dos estudantes de universidades do Brasil possuem alguma relação formal de trabalho. Diante desse panorama, muitos estudantes acabam por vivenciar uma experiência constante de instabilidade, e não apenas financeira, mas também emocional. Visto que, a ausência de oportunidades formais de inserção no mercado durante a graduação faz com que a experiência universitária se torne um período de sobrecarga e sobrevivência.
Além de utilizar o trabalho informal como entregadores por aplicativos, como forma de alcançar uma renda enquanto estudante, como foi dito pelo Economista Fabrício Vieira em entrevista, essa questão também é pautada na falta de oportunidades de trabalho e de capacitação, o que facilita para estes jovens procurarem estas ocupações como forma de alcançar esta renda de forma mais rápida, tendo como única exigência, a habilitação para pilotar a moto, ou nem isso, no caso das bicicletas; por isso muitos optam por este serviço. Outros pontos que podem ser notados, é a flexibilidade de horários, que aparenta inicialmente ser uma ótima forma de manter o trabalho e o estudo. Uma pesquisa realizada pela Cebrap, com dados de 2022 mostrou que a faixa etária de pessoas que atuam como motoristas de aplicativo ou entregadores está principalmente entre 20 até 39 anos; porém o período entre 20 até 29 anos é onde se encontra a maior porcentagem de pessoas ingressando no mercado de entregadores, paralelamente, uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Uberlândia mostra que a média de idade dos estudantes nas universidades é de 24,4. A partir disso, podemos entender uma semelhança entre o alto nível de jovens que ingressam no mercado de entregadores na faixa de 20 a 29 anos, como mostra o gráfico abaixo.

Em entrevista com o Juan, ele também comentou como a instabilidade do trabalho e a pressão de bater as metas estabelecidas pela empresa afetaram a sua relação com os estudos e até mesmo com o próprio trabalho. Ele diz que por mais que pudesse montar seu horário e decidir se trabalharia todos os dias da semana ou somente nos fins de semana a meta de entregas imposta pela empresa deveria ser sempre batida ou o colaborador seria desligado, a instabilidade do ramo fazia com que alguns dias ele poderia fazer vinte entregas enquanto em outro apenas duas, atrapalhando todo seu dia em que poderia estar estudando ou até mesmo fazendo alguma atividade de lazer.
Diante disso, percebemos que muitos jovens se veem obrigados a recorrer ao trabalho informal para se manterem dentro dessas cidades universitárias, se deparando com um ciclo onde o esforço muitas vezes não tem o retorno proporcional. Além disso, o desgaste acumulado entre entregas e aulas cria-se uma rotina onde o tempo livre se torna um luxo, fazendo com que o descanso, o lazer e a relações sociais sejam frequentemente sacrificadas. Portanto, a escolha de atuar como entregador de aplicativo, por mais atrativa que seja, escancara um outro problema na nossa sociedade: a precarização da juventude que estuda. Enquanto a ideia de esforço individual e de independência é romantizada, ignora-se completamente que muitos desses jovens não estão ingressando nessa área por escolha, mas sim por necessidade.
Reportagem por:
Marcus Thulio Teixeira
Ana Luísa Cabral
Otto Vitarelli