No coração da Zona da Mata, Cataguases se tornou um raro polo do modernismo fora dos grandes centros. Obras de Oscar Niemeyer, Cândido Portinari e Burle Marx transformaram a paisagem urbana, e até hoje a cidade respira cultura.
Por: Letícia Panta e Beatriz Lara
Edição: Myrella Alcântara e Pablo Valente
Origem e identidade cultural
O nome “Cataguases” vem da palavra indígena catu-auá, que significa “gente boa”, uma homenagem tanto ao território quanto ao povo que o habitava. A cidade foi fundada em 1826 pelo militar Guido Marlière, enviado à região para ocupar uma área rica em diamantes. O local é repleto de história e cultura.
Com o tempo, o pequeno núcleo urbano cresceu e, já no século XX, ganhou projeção nacional. Famílias influentes, como a do escritor Francisco Inácio Peixoto, trouxeram artistas e arquitetos renomados para a cidade.
Arquitetura modernista no interior mineiro
Entre os anos 1940 e 1960, Cataguases recebeu projetos de grandes nomes do modernismo brasileiro. Entre eles:
• Oscar Niemeyer, arquiteto;
• Cândido Portinari, pintor;
• Roberto Burle Marx, paisagista;
• Jan Zach, escultor.
Essas obras introduziram formas geométricas, linhas retas, fachadas livres e integração entre construção e natureza.

projetada pelo arquiteto Francisco Bolonha. Foto: J. Gabriel
O Colégio Cataguases: símbolo de inovação
Um dos marcos da cidade é a Escola Estadual Manoel Inácio Peixoto, projetada por Niemeyer entre 1945 e 1949. O prédio tem galeria elevada, planta retangular e prioriza leveza estrutural.
Para José Wellington de Oliveira, ex-aluno:
“É uma escola futurista, arquitetada com qualidade. A gente sente que foi pensada com carinho, amor e versatilidade.”
Ele destaca que, já naquela época, a escola incluía rampas e acessos amplos. Uma proposta visionária em termos de acessibilidade.

Além do colégio, outras construções se destacam:
• Residência Francisco Inácio Peixoto (tombada pelo IPHAN);
• Igreja Santa Rita, no centro, com azulejos de Djanira.
Segundo Mário Ferreira, artista e servidor do patrimônio local, Cataguases é “um museu a céu aberto”. Ele ressalta o trabalho da Prefeitura e do IPHAN para conservar esses espaços.
Cinema: o Ciclo de Cataguases
Cataguases não é apenas arquitetura. A cidade também tem papel fundamental no cinema brasileiro. Foi lá que Humberto Mauro, um dos pioneiros do audiovisual nacional, iniciou sua carreira nos anos 1920.
O chamado Ciclo de Cataguases deu origem a filmes como Na Primavera da Vida (1926) e Brasa Dormida (1928), que romperam padrões narrativos da época.
Em junho de 2025, a cidade voltou às telas: foi escolhida como cenário para o longa Quinze Dias, de Daniel Lieff, produzido pela Conspiração Filmes (a mesma de Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar em 2024)..
Orgulho e pertencimento
Para moradores como Inácio Lippi, 18 anos, viver em Cataguases é motivo de orgulho:
“As pessoas de fora não enxergam tão bem isso, mas é uma cidade tranquila, cheia de obras famosas. Me orgulho de morar aqui.”
Esse sentimento de pertencimento mostra como o patrimônio arquitetônico e artístico não está apenas nos livros: ele pulsa no cotidiano dos cataguasenses.
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