Infectologista conta como está após a epidemia global.
Por Anthônia Catro e Matheus Santiago
03/2025

Parece que foi ontem, mas já se passaram cinco anos desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de pandemia em relação ao coronavírus. Em 11 de março de 2020, o mundo já registrava 118 mil casos da doença em 114 países
Além de sequelas físicas e emocionais, o tempo vivido sob a ameaça do coronavirus imprimiu mudanças na rotina e na sociabilidade da maioria das pessoas.
“Por um tempo, eu vivi o impossível”
Pedro Campana, infectologista e professor do Hospital escola Santa Casa de São Paulo
A vida após o (Im) possível
“Foi um momento da minha vida que eu tenho até blecaute ao recordar. Eu não lembro da sequência dos acontecimentos, mas lembro que voltei a fumar, depois de dois anos”
Pedro relembra, em primeiro lugar, como foi comprometida a sua saúde mental durante o lockdown, Ele também avalia que foi um momento de resiliência, em que seu foco estava no presente, “não pensando no dia seguinte, não pensando no dia anterior”.
Em janeiro de 2020 em uma aula ministrada no hospital Santa casa da misericórdia no centro de São Paulo, pedro considerou distante a probabilidade de uma pandemia distante.
Quando a realidade se impôs, meses depois, tudo mudou. Ele se viu dando três, quatro noticias de morte por dia; seu telefone não parava de tocar, quando voltava do trabalho, não havia com quem conversar.
Ele tentava se desligar, mas ai era a hora de estudar.
Uma rotina extenuante. Além do cuidado que dedicava aos pacientes com covid-19, havia outras pessoas, já internadas com outras doenças infecciosas, que também exigiam sua atenção.
MEMÓRIAS E APRENDIZADOS
Para o médico, ficou na memória a força do trabalho em equipe, da colaboração, da confiança em seus colegas de trabalho. Ele se emociona ao lembrar do elo que o ligou à amiga Taiana Ribeiro, também médica na Santa Casa, e desabafa:
“Eu acho que até agora eu não me entendi no pós-pandemia, sabe? Eu ainda estou meio E.T”
Apesar de se reconhecer um pouco pessimista, diante do exercício de reflexão proposto pela entrevista, Pedro também registra algumas conquistas pós-pan-pandemia em sua vida pessoal: a conclusão do curso de mestrado em Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em que avaliou o impacto da covid-19
Para quem esteve no olho do furacão, diz, é difícil lidar com a “memória de rede social” das pessoas, e perceber que a experiência da pandemia não foi capaz de modificar o modo como a humanidade vive e se relaciona com o planeta. “Foi como se tivesse passado uma tempestade, uma tempestade que levou a quase um milhão de mortos no Brasil”, define.
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