Clícia Sales – 116523 | Layla Marinho – 116514 | Maria Júlia – 116501 | Matheus Santiago – 109944
Em 2024, o estado de Minas Gerais foi o que fechou o ano com o maior índice de desmatamento, segundo um balanço realizado por uma operação do governo federal. As investigações apontaram que cerca de 17 mil hectares de Mata Atlântica foram desmatados para serem transformados em lavouras, pastos e loteamentos apenas no último ano.
Já em 2025, o desmatamento na Mata Atlântica apresentou uma redução de 42% no primeiro trimestre. Ainda assim, continua sendo um ponto de alerta, com aproximadamente 8.109 hectares desmatados no período. A situação é mais crítica em áreas de floresta madura, especialmente nos estados da Bahia e de Minas Gerais, embora desastres climáticos de 2024, como as enchentes no Rio Grande do Sul, também tenham provocado desmatamento significativo por causas naturais.
Há iniciativas para melhorar esses índices, como a operação “Mata Atlântica em Pé”, uma ação nacional de fiscalização coordenada pelo Ministério Público, que utiliza tecnologia de satélite e inteligência para combater o desmatamento ilegal no bioma em 17 estados. A operação busca identificar áreas desmatadas, responsabilizar os infratores com multas e outras sanções e proteger a floresta, por meio de fiscalizações remotas e presenciais em áreas críticas. Após a identificação das áreas, as equipes de fiscalização verificam os locais, tanto remotamente quanto presencialmente, para confirmar os desmatamentos e identificar os proprietários.
O Ministério Público atua na responsabilização dos infratores, aplicando multas e outras sanções, como a suspensão do CAR (Cadastro Ambiental Rural), o que pode impedir o acesso a benefícios como subsídios e financiamentos. A operação envolve a colaboração de diversas instituições, como Ministérios Públicos estaduais, IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), polícias ambientais, secretarias de Meio Ambiente e o próprio MapBiomas.
Zona da Mata
De 2001 a 2020, um estudo realizado pela UNIMONTES sobre incêndios florestais em Minas Gerais mostra que, na mesorregião da Zona da Mata, a “área de cicatriz”, ou seja, a área afetada por incêndios, foi de 136.610,8 hectares, o que corresponde a cerca de 3,8% de toda a área da região no período. Esse percentual é relativamente baixo em comparação com outras mesorregiões mineiras, possivelmente devido a fatores como menor cobertura florestal natural, menor incidência de grandes fogos ou maior predominância de áreas agrícolas. Ainda assim, isso não elimina a ocorrência de focos de incêndio.
De 2021 a 2025, segundo a planilha de ocorrências do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os incêndios em lotes vagos na Zona da Mata somaram 3.578 registros. Outro dado relevante diz respeito aos incêndios em áreas de preservação, que totalizam 49 casos desde 2021.


Nos anos recentes, os incêndios têm ganhado destaque. Em uma reportagem publicada pelo jornal Folha da Mata em 2024, aponta-se que os “incêndios florestais na Zona da Mata dobraram em relação ao ano passado”, sendo a prática de limpeza de terrenos rurais com uso de fogo uma das principais causas. Os incêndios também geram impactos diretos na infraestrutura: em 2024, a empresa de energia da região, Cemig, registrou 129 ocorrências de incêndios na Zona da Mata, afetando mais de 270 mil clientes.
O Tenente Élio Bigonha, comandante do 3º Pelotão do Corpo de Bombeiros de Viçosa (MG), afirmou que os incêndios em 2024 foram mais intensos na região do que nos anos anteriores. Ele destacou: “Tivemos um exemplo de grande ‘queimada’ recentemente no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, onde houve um número muito elevado de ocorrências; foram diversos focos no ano de 2024”.
Em 2025 (até agosto), há registros de queda no número de incêndios na Zona da Mata. O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) contabilizou 1.239 ocorrências de incêndios nos primeiros oito meses do ano, contra 2.050 no mesmo período de 2024, uma redução de cerca de 40%.
Manifestações do Fogo
Segundo o professor Fillipe Tamiozzo, doutor em Ciência Florestal e atuante na área de fogos florestais e ecologia do fogo, o termo “queimadas” não é utilizado entre os profissionais da área. Ele explica que existem três manifestações do fogo: incêndios florestais, queimas controladas e queimas prescritas.
Os incêndios florestais são caracterizados pelo fogo sem controle em qualquer tipo de vegetação, como florestas, áreas naturais de qualquer bioma, plantações ou pastagens em áreas rurais. São considerados desastres ambientais que podem ter origem natural (como raios) ou resultar de ações humanas (antrópicas) de diversas formas.
Quando o fogo é utilizado de maneira controlada para fins agropastoris, ele é chamado de queima controlada. Para que esse procedimento ocorra, é necessário planejamento prévio, autorização legal e a delimitação física da área onde a queima será realizada. Caso o fogo ultrapasse esse perímetro previamente definido, ele se transforma em um incêndio florestal.
Já as queimas prescritas têm finalidade ecológica e podem ser utilizadas para a subsistência de populações tradicionais, prevenção de incêndios, eliminação de espécies exóticas e outras ações voltadas ao manejo ambiental. Nessas situações, a área nem sempre necessita de limites físicos rígidos, pois o fogo é mais brando e manipulado por profissionais especializados.
O professor Tamiozzo conclui: “O termo ‘queimada’ coloca todos os fogos como sendo iguais. Quando a gente fala ‘queimada’, colocamos dentro da mesma sacola um crime ambiental, que é o incêndio florestal, e as minhas queimas controladas e prescritas, que têm autorização legal, função ecológica e função técnica.”

Causas dos incêndios florestais
Os incêndios florestais, embora muitas vezes tratados como um processo simples de queima de vegetação, são fenômenos complexos que envolvem fatores humanos, ambientais e climáticos. De acordo com o especialista Fillipe Tamiozzo, a maior parte dos focos de fogo no Brasil surge devido à ação humana, seja por descuido, desconhecimento técnico ou intenção deliberada.
Tamiozzo explica que uma das principais causas é a prática de queimar lixo doméstico, restos de poda e vegetação em terrenos baldios. Essa ação, comum em muitas regiões, torna-se altamente perigosa quando realizada em períodos de estiagem, com ventos fortes ou sem que o responsável saiba criar barreiras de contenção. O fogo, que deveria permanecer restrito a um pequeno ponto, encontra vegetação seca, espalha-se rapidamente e se converte em um incêndio.
Outra causa apontada por Tamiozzo é o uso intencional do fogo. Nessas situações, as queimas são realizadas de propósito, motivadas por conflitos territoriais, vandalismo, disputas por espaço ou tentativas de “limpar” áreas para novos usos. Ele ressalta que esses incêndios criminosos são extremamente danosos, pois muitos são iniciados durante períodos críticos de seca, quando a vegetação está mais suscetível à combustão, aumentando as chances de que o fogo fuja do controle.
Além disso, práticas negligentes, como fogueiras mal apagadas, fogos de artifício, limpeza inadequada de lotes vagos ou queima imprópria de lixo, contribuem para estatísticas que mostram que cerca de 95% dos incêndios florestais no Brasil têm origem humana.
O especialista destaca ainda que as mudanças climáticas tornaram o cenário mais propenso à propagação do fogo. Os períodos de seca se intensificaram, as temperaturas aumentaram e a umidade relativa do ar diminuiu, deixando a vegetação em estado de “combustível pronto”.
Nessas condições, uma pequena faísca ou brasas carregadas pelo vento são suficientes para provocar grandes incêndios. A falta de fiscalização adequada e a ausência de políticas permanentes de manejo da vegetação, como a limpeza de áreas abandonadas e a criação de aceiros (faixas de terreno onde a vegetação é totalmente removida) , agravam ainda mais o problema, deixando regiões inteiras vulneráveis.
Consequências ambientais e climáticas
As consequências dos incêndios, segundo o professor, são profundas e muitas vezes irreversíveis. No campo ambiental, Tamiozzo explica que o fogo destrói a cobertura vegetal, mata árvores, compromete a regeneração de plantas nativas e provoca a perda de espécies animais que não conseguem fugir das chamas.
Em biomas sensíveis ao fogo, como a Mata Atlântica e partes da Amazônia, os danos podem durar décadas. O solo também sofre intensamente: o calor elevado destrói nutrientes essenciais, empobrece a estrutura do terreno, elimina micro-organismos fundamentais para a fertilidade e favorece processos de erosão. Em áreas onde as queimas se repetem ano após ano, o solo pode perder quase por completo sua capacidade produtiva.

Os recursos hídricos também são afetados. Tamiozzo explica que, quando a vegetação é destruída, a água da chuva não se infiltra adequadamente no solo e passa a escoar superficialmente, carregando sedimentos e provocando o assoreamento, acúmulo de substâncias minerais ou orgânicas, de rios e córregos. Com isso, nascentes diminuem ou desaparecem, a qualidade da água piora e comunidades inteiras são impactadas. Outro efeito significativo é a emissão de gases e partículas tóxicas, que comprometem a qualidade do ar.
Os impactos não atingem apenas a vegetação, mas também a saúde humana. Segundo o Ministério da Saúde, as combustões emitem grandes quantidades de fumaça e partículas tóxicas que são lançadas na atmosfera, afetando a saúde de moradores próximos e até mesmo de populações que vivem a longas distâncias do foco do incêndio.
Monitoramento e Prevenção
Apesar de o incêndio florestal ser um desastre ambiental no qual não há controle sobre o fogo, algumas técnicas podem ser aplicadas para monitorar essas ocorrências. Atualmente, devido aos avanços tecnológicos, drones podem ser utilizados tanto para detectar fumaça quanto para auxiliar no combate por meio de lufadas de ar. Outra forma de monitoramento é o uso de satélites, que identificam pontos de calor, além de câmeras e torres instaladas especificamente para detectar esses eventos. Quanto mais cedo o fogo é identificado, mais fácil se torna combatê-lo.

Outra iniciativa importante para reduzir a ocorrência desses incêndios são as políticas de prevenção. De acordo com o Tenente Élio Bigonha, a corporação promove a Operação Alerta Verde, uma campanha composta por duas fases.
Na primeira, próximo ao período mais crítico de estiagem, são realizadas vistorias em diversos locais onde há lotes com vegetação alta, e os relatórios feitos são encaminhados à prefeitura. O órgão municipal, então, notifica os proprietários desses espaços para que realizem a limpeza; caso não cumpram a determinação, ficam sujeitos à aplicação de multa.

Além disso, são realizadas campanhas educativas voltadas à sensibilização da população, como visitas a escolas e palestras. No caso do 3º Pelotão de Viçosa, que é responsável por uma unidade de conservação, o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, os militares também realizam visitas ao local e às comunidades do entorno. Recentemente, foram feitas ações em escolas próximas ao parque, com o objetivo de conscientizar as crianças sobre os prejuízos causados pelo uso inadequado do fogo, como queimas e limpezas sem os devidos cuidados.
