
Nos últimos anos, houve uma leve redução nacional no número de alunos por turma no Brasil, mas essa diminuição não foi suficiente para superar a desigualdade educacional já existente. Enquanto algumas redes e regiões conseguiram reduzir o tamanho das turmas, as escolas públicas, especialmente nas áreas mais vulneráveis, continuam concentrando as salas de aula mais cheias em comparação à rede privada. Nesse contexto, é possível oferecer as mesmas oportunidades quando uns aprendem em salas lotadas e outros em turmas reduzidas?
Nos últimos anos, entre 2015 e 2024, o Brasil registrou uma redução geral na média de alunos por turma no Ensino Médio. No entanto, essa mudança não aconteceu de forma uniforme entre as regiões do país nem entre as diferentes redes de ensino, públicas e privadas. Essa desigualdade, revelada pelos dados do INEP, aprofunda contrastes históricos e gera implicações profundas para o aprendizado e para a experiência escolar dos estudantes, impactando diretamente a qualidade do ensino.
A superlotação ainda presente em muitas escolas brasileiras se manifesta diariamente para quem está dentro da sala de aula. A estudante Bianca Fernandes Abranches, da Escola Estadual Effie Rolfs, relata sentir o impacto direto do tamanho das turmas: “O professor quase nunca consegue fazer a sala ficar quieta. Isso me tira totalmente o foco. Às vezes, o professor meio que desiste de tentar controlar a turma, e aí a aula vira um caos”.
Além da visão dos estudantes, educadores em formação também percebem como o tamanho das turmas interfere na dinâmica pedagógica. Daniely Cunha, estudante de Licenciatura em Geografia e estagiária do PIBID, acompanha de perto a rotina das escolas públicas e confirma que turmas grandes dificultam o trabalho docente e o processo de aprendizagem.
Segundo ela, “não conseguimos atender às particularidades de cada aluno quando a sala é superlotada’. Daniely explica que turmas menores facilitam a criação de vínculos e o acompanhamento individual: “Em turmas menores é muito mais fácil prender a atenção dos alunos e criar uma relação mais próxima também. Além disso, o desempenho escolar das turmas menores que acompanho é bem melhor do que o das turmas maiores.”
Enquanto as escolas públicas mantêm turmas consistentemente maiores ao longo dos anos, a rede privada apresenta as menores médias de alunos por sala, chegando a apenas 26,9 estudantes em 2024, o menor valor entre todas as dependências administrativas. Essa diferença no tamanho das turmas contribui diretamente para a qualidade do aprendizado, já que ambientes menos lotados favorecem maior atenção individual do professor, melhor participação dos estudantes e um clima escolar mais organizado. Nas redes públicas, onde as salas permanecem mais cheias, essas condições são mais difíceis de garantir, o que amplia desigualdades já existentes no sistema educacional brasileiro.

Os dados disponibilizados pelo INEP, compara a média de alunos por turma no Ensino Médio em 2024 e evidencia um outro padrão já conhecido na educação brasileira: quanto mais vulnerável socioeconomicamente a região, maior a quantidade de estudantes por sala.
Regiões Norte e Nordeste, historicamente marcadas por desigualdades socioeconômicas e menor investimento público, concentram as turmas mais numerosas em praticamente todas as redes de ensino. No Nordeste, por exemplo, as médias ultrapassam 32 alunos por turma na rede Federal, Estadual e Pública, números significativamente superiores aos registrados no Sul, que apresenta algumas das menores médias do país, chegando a cerca de 24 estudantes por sala na rede pública.

Essa diferença regional, que se repete de forma consistente no gráfico, indica que os desafios enfrentados pelos estudantes não se limitam ao conteúdo aprendido, mas também ao ambiente em que aprendem. Nas salas mais cheias, comuns nas regiões mais vulneráveis, a atenção individualizada do professor se torna praticamente inviável, o barulho aumenta e a dinâmica da aula se torna mais desgastante. Já nas regiões mais ricas, onde o número de alunos por turma é menor, como no Sul e em parte do Sudeste, o ambiente favorece mais concentração, acompanhamento e desempenho escolar.
Ao comparar redes públicas e privadas dentro de cada região, a desigualdade se torna ainda mais evidente. Na maioria delas, a rede privada mantém turmas menores, enquanto as escolas públicas lidam com números significativamente maiores. No Nordeste e no Norte, essa diferença é especialmente marcante: enquanto as escolas públicas chegam a superar 32 alunos por turma, a rede privada mantém médias mais baixas, variando entre 26 e 28.

Essas discrepâncias revelam não apenas diferenças estruturais, mas também desigualdades de oportunidades. A especialista, Priscila Ladeira, doutorado em Educação Infantil, aponta que o tamanho das turmas impacta a relação entre aluno e professor, uma turma maior pode limitar essa relação, turmas maiores comprometem diretamente o aprendizado e dificulta a gestão da sala de aula. Assim, em regiões que já enfrentam dificuldades econômicas, as salas cheias acaba aprofundando desigualdades educacionais, criando um ciclo em que os estudantes com menos recursos também recebem menos condições adequadas de aprendizado.
Logo, o tamanho das turmas, entre as redes públicas e privadas, nas diferentes regiões do país, não é um detalhe administrativo, mas um indicador das desigualdades regionais e econômicas do país, desigualdades que começam dentro da sala de aula e refletem no desempenho escolar e no futuro dos estudantes.
Por: Daniela Moura, Hallyson Venancio, João Gabriel Rezende, Myrella Alcântara e Nina Torres