Reinventando a educação: a pedagogia para jovens e adultos no Brasil

Com a inclusão de jovens e adultos na sala de aula, a EJA e o SNE são políticas adotadas pelo Governo Federal para promover o acesso à educação de qualidade.

Por Alice, Carolina, Lorena, Millena e Tainá.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2024, 8,7 milhões de jovens brasileiros (entre 14 e 29 anos) não completaram o ensino médio, seja por evasão escolar ou por sequer frequentarem a escola.

Como uma forma de promover o acesso à educação para aqueles que já ultrapassaram a idade para frequentar escolas, no ano de 1996 foi oficializada a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A iniciativa para inserir essa modalidade na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional partiu de movimentos de educação popular e teorias do período entre os anos 40 e 60, em que se destacava Paulo Freire, educador brasileiro reconhecido pela sua visão da educação como um ato político e emancipatório.

Conforme as estimativas do Censo Escolar 2024, houveram aproximadamente 2,2 milhões de estudantes da EJA matriculados na rede pública, além de 200 mil matrículas na rede privada.

Esse valor corresponde a uma grande parcela da população brasileira, que, devido à oportunidade fornecida pela Educação de Jovens e Adultos, são contemplados com o acesso à educação gratuita de qualidade.

Educação para idosos: sonhos que não morrem

A professora Andréia Queiroz Ribeiro, graduada em Farmácia pela UFJF e atualmente professora do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa, também é responsável pela coordenação do Programa Universidade Aberta à Pessoa Idosa (UNAPI/UFV). Ela comenta que o acesso à educação para públicos maduros corresponde à ideia de envelhecimento saudável da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo Andréia, envelhece com saúde aquele que tem condições e oportunidades de continuar fazendo o que é importante para si, para continuar se desenvolvendo e se realizando enquanto indivíduo com interesses e desejos próprios.

A educação para idosos que não tiveram a oportunidade de estudar é o marco da oportunidade para dar continuidade aos sonhos que não foram realizados, com a possibilidade de concluir o ensino superior, ingressar numa universidade e encontrar pessoas da mesma faixa etária.

“Encontrar esses grupos de apoio é transformador, porque acaba sendo uma nova oportunidade de realizar sonhos, porque os sonhos não morrem. Eles envelhecem, mas não acabam.” (Andréia Ribeiro, professora da UFV)

A Universidade Federal de Viçosa tem se destacado em função das iniciativas para acolhimento da pessoa idosa. Além do programa da UNAPI, que visa oferecer minicursos, atividades e projetos de extensão com foco em saúde e educação para pessoas acima de 60 anos, a UFV ainda foi pioneira ao desenvolver um vestibular exclusivo para candidatos da mesma faixa etária.

Para além da EJA, programas e possibilidades

No ano de 2024 ocorreu o primeiro vestibular do programa UFV 60+, que oferecia oportunidade de ingresso na universidade para pessoas entre 60 e 79 anos. Naquela edição, houveram 90 vestibulandos participantes para ingressar no ano de 2025.

Candidatos realizando a prova do 1° vestibular UFV 60+ | Reprodução: UFV

Na edição deste ano, 2025, o processo previa a oportunidade de preenchimento de 113 vagas ociosas nos cursos de graduação dos campi Viçosa, Florestal e Rio Paranaíba, ambos pertencentes à UFV. A prova ocorreu no dia 23 de novembro, e o ingresso dos aprovados será no próximo período letivo, 2026/1.

Nativa de Conceição do Pará, MG, Maria da Conceição Viegas está entre os aprovados na primeira edição do vestibular UFV 60+. Maria mudou-se para Viçosa para morar com sua filha, que na época estudava na UFV. O principal motivo para a mudança foi a síndrome do ninho vazio, que é caracterizada pelo sentimento de tristeza quando os filhos saem de casa para morar sozinhos.

Maria Viegas em entrevista | Foto por: Carolina Fausto

No contexto de amadurecimento da idade e ausência dos filhos nesse processo, Maria se viu com depressão, e foi a mudança para Viçosa que ressignificou a sua vida. A partir disso, ela se integrou com a causa dos idosos e questões referentes à saúde mental. E, em 2024, inscreveu-se no edital do primeiro processo seletivo para idosos na UFV.

Maria foi aprovada e hoje cursa o segundo período do curso de Educação do Campo. Ela descreve esse passo como uma virada de chave para ressignificar o seu processo de envelhecimento, revelando-se como um grande potencial para não só aprender, mas, devido a sua grande bagagem de conhecimento, também trocar aprendizados e experiências.

Os programas de acolhimento à pessoa idosa são essenciais para garantir a qualidade de vida da população como um todo, principalmente levando em consideração o fato de que está previsto na Constituição Federal o direito social de acesso ao ensino de qualidade.

Desse modo, as políticas públicas para promover a educação – tanto em nível médio quanto superior -, são essenciais para a manutenção positiva da sociedade. Segundo Andréia Ribeiro, essa possibilidade de estudo após a juventude é importante para promover a inserção profissional e a realização social.

“A iniciativa do vestibular 60+ é extremamente importante, louvável e digna de ser parabenizada, porque ela dialoga com a dinâmica demográfica. A expectativa de vida da população aumentou muito, então é preciso ressignificar essa etapa de vida.”

O número de pessoas matriculadas na EJA com idades entre 40 a 49 anos e 50 anos ou mais é expressivo, e a taxa de permanência desses alunos no sistema de educação superior supera a média, sendo de aproximadamente 69,9% para adultos entre 40 a 49 anos e 69,2% para indivíduos com 50 anos ou mais.

Sobretudo na faixa etária dos maiores de 50 anos, a oscilação de valores de permanência entre 2016 e 2024 é irrisória, o que revela adesão e interesse desses públicos em dar continuidade aos estudos mesmo em idade avançada.

O Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) é um estudo desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que tem como intuito avaliar jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências.

A pesquisa do PISA ocorre de três em três anos e em escala mundial. Sua última edição se deu no ano de 2022, e a próxima será divulgada neste ano, em 2025.

No ano anterior, os resultados divulgados qualificaram a educação do Brasil na 60° colocação entre 81 países, ocupando uma posição posterior a países majoritariamente asiáticos e europeus.

Em 2025, foi instituído o Sistema Nacional de Educação, que objetiva garantir a universalização do acesso, permanência e qualidade da educação para a população brasileira. Além disso, o sistema do Novo Ensino Médio tem sido gradualmente implementado neste ano para turmas de primeira série, e, até 2017, estenderá-se para as demais séries do ensino secundário.

O PISA não se trata de uma pesquisa que interfere diretamente nos dados da EJA, mas seus dados relacionam-se com os índices de escolaridade e educação básica completa, o que é associado às demandas de ensino supletivo para jovens, adultos e idosos que passaram por evasão escolar.

Confira um trecho da entrevista com Maria Viegas:

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Acesso à educação: Vestibular UFV 60+