SUS e o enfrentamento do aumento das ISTs entre os jovens em Minas Gerais

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são um desafio crescente para a saúde pública no Brasil, causadas por vírus, bactérias e outros microrganismos e são transmitidas principalmente por meio de relações sexuais sem o uso de preservativo. Apenas em 2025, o país já registrou mais de 100 mil casos de infecções, segundo boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde.

Apesar da expansão do acesso aos diagnósticos e tratamentos gratuitos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os números continuam significativos. 

Para a sífilis, infecção provocada pela bactéria Treponema pallidum, o índice chegou a cerca de 23.521 casos notificados somente no Estado de Minas Gerais em 2024, e cerca de 6 mil infectados pelo vírus HIV na região durante o mesmo ano.

A maior taxa de contaminação ocorre entre homens jovens heterossexuais, esse grupo concentra o maior número de casos por reunir fatores como: maior exposição em relações sexuais desprotegidas, baixa percepção de risco e menor adesão à testagem periódica. Os dados mostram ainda que o uso de drogas é um fator comum que antecede a exposição, no caso do vírus HIV. 

Fonte: dados.mg.gov.br

A importância do conhecimento

A maioria dos casos envolve pessoas com ensino médio e fundamental completo/incompleto, o que reforça a importância da educação sexual acessível e contínua. São mais de 20 mil crianças e adolescentes registrados com uma IST na região mineira. Para além disso, o maior número encontrado nessa categoria consta como “ignorado”, o que dificulta a identificação precisa do cenário atual. 

As campanhas impulsionadas pelo governo e as ações de prevenção têm avançado a passos lentos se comparadas ao crescimento dos casos, especialmente entre os mais jovens. 

A maior parte das notificações está concentrada na faixa dos 15 aos 35 anos, que reúne tanto adolescentes quanto jovens adultos. Profissionais de saúde apontam que fatores como desinformação, tabus, diminuição do uso de preservativos e o crescimento da testagem também influenciam essa curva. Em 2014 foram registrados 4.089 casos de HIV, e no ano de 2024 ultrapassou-se os 6 mil diagnósticos somente no estado de Minas. Já sobre a sífilis, o número é ainda mais alarmante, com 3.434 casos em 2014 os índices da infecção mais do que triplicaram, subindo para 23.521 registros. 

O SUS garante acesso gratuito aos testes rápidos que detectam sífilis, HIV e as hepatites B e C, permitindo um diagnóstico ágil e acessível para toda a população. Além disso, o sistema público oferece todo o acompanhamento necessário, incluindo tratamento completo e medicamentos específicos para cada infecção, sem nenhum custo para o paciente. Apesar do avanço dos tratamentos, ainda há registros de óbitos relacionados ao HIV, reforçando a importância do diagnóstico precoce e da continuidade do cuidado.

Nesse contexto, entrevistamos rapidamente a jovem Geovana Cassamali, de 21 anos, costuma realizar testes de IST duas vezes ao ano, não por suspeita, mas por rotina e autocuidado. A sua última experiência aconteceu no Hospital São João Batista, em Viçosa, onde o atendimento foi rápido, reservado e eficiente. Após preencher os formulários, foi encaminhada para a sala onde a profissional abriu o kit de testagem na sua frente e coletou uma pequena amostra de sangue com uma picada no dedo. “Faltou um pouco de explicação, talvez por eu já ter feito antes”, ela relata.

Ainda assim, diz ter se sentido segura durante todo o processo. O resultado negativo encerrou a consulta sem orientações adicionais, o que seria diferente se alguma infecção tivesse sido identificada.

Legenda: Teste Rápido – Todos negativos.

Contudo, a prevenção através do uso da camisinha, masculina ou feminina, permanece como o único método capaz de evitar tanto a gravidez quanto a transmissão de ISTs. Métodos contraceptivos hormonais, como pílulas ou injeções, não oferecem proteção contra essas infecções. O sistema único de saúde também oferece esse método de prevenção gratuitamente, em diversas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

 UBS em Viçosa, MG. – Preservativo masculino.

“IST não tem cara”

A expressão  “IST não tem cara” reforça um ponto crucial na prevenção: qualquer pessoa pode contrair ou transmitir uma infecção sexual, independentemente de idade, orientação sexual, classe social, religião ou estado civil. Muitas ISTs podem permanecer assintomáticas por meses ou até anos, aumentando o risco de transmissão sem que o indivíduo perceba.

Em 2024, o Globo Repórter voltou a abordar a evolução das estratégias de prevenção ao HIV no país. No programa, o infectologista Dr. Bernardo Porto Maia, do Instituto Emílio Ribas, relembrou o cenário de 2011, quando as políticas de prevenção ainda engatinhavam e o acesso a tratamentos preventivos eram mais limitados. 

“A realidade que enfrentávamos há 13 anos era outra. Hoje avançamos muito, tanto em diagnóstico quanto em terapia”, afirmou o especialista. 

Entre esses avanços, a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) se destaca como um dos métodos mais eficazes contra o HIV.  O método, que usa antirretrovirais antes da relação sexual para impedir a entrada do vírus no organismo, é apontado por especialistas como essencial para a redução dos novos casos e está disponível gratuitamente pelo SUS, tanto para uso diário quanto sob demanda. Já a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) funciona como uma medida emergencial após uma situação de risco, como sexo desprotegido ou rompimento do preservativo. Esse tipo de tratamento combina dois medicamentos durante 28 dias, e precisa ser iniciado em até 72 horas para garantir a sua eficácia.

O pesquisador e professor Robson Filho, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa, investiga as “Narrativas de si e os imaginários sobre HIV: uma análise do canal Hdiário”. Em entrevista ele falou abertamente sobre a falta de diálogo em torno da saúde sexual, tema culturalmente pouco discutido nas escolas e também nas famílias, por exemplo.

“O que faz as pessoas se infectarem é que a gente acredita que esse assunto está amplamente debatido — e ele não está”, afirma.

Mesmo com os avanços do SUS na testagem e no tratamento das ISTs, o crescimento dos casos entre jovens evidencia desafios persistentes na prevenção. As lacunas presentes nos registros oficiais, especialmente o elevado número de informações classificadas como “ignorado”, dificultam análises precisas e comprometem o planejamento de ações mais direcionadas. De acordo com o Ministério da Saúde, a adoção de medidas preventivas — como o uso regular de preservativos e a realização periódica de testes — continua essencial para conter a disseminação dessas infecções. Para orientações adicionais sobre prevenção, testagem e acesso aos serviços, a população pode contatar o Disque Saúde (136), canal oficial de atendimento do Ministério da Saúde.

Planilhas disponíveis: https://docs.google.com/spreadsheets/d/1qUll0xEz6nisT5X84_ouEcsOP7zVPTStTmSNoN17gWU/edit?gid=1343807282#gid=1343807282 https://dados.mg.gov.br/dataset/527e8665-de64-4f81-b7c3-40b59c7d1d3c/resource/c9d52621-18b4-48eb-8534-f0991b1cd1a5/download/dados_aids_hiv.csv https://dados.mg.gov.br/dataset/aids_hiv/resource/c9d52621-18b4-48eb-8534-f0991b1cd1a5

Referências: https://globoplay.globo.com/v/12469399/ https://globoplay.globo.com/v/14103317/

Redação: Beatriz Lara e Letícia Panta/Produção: Ana Oliveira e Emanuel Reis

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